quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Porquê o “Retiro da paz” em Adrão?


O projecto duma ecoaldeia na Assureira debateu-se logo com vários problemas/desafios que ainda subsistem:
  1. Como evitar a especulação dos vendedores?
    - É inevitável que as pessoas queiram ver valorizados os seus bens, não só pela especulação dalguns negócios na vizinha Soajo e respectivas brandas, mas também porque o valor sentimental que lhes têm é muitas vezes superior ao comercial.
    - Se no entanto o seu interesse ultrapassar o vil metal e apelarmos à sua vontade de preservar/ reacender a vida quer na Branda quer no próprio centro do lugar, através da vinda de gente nova, que respeite o ambiente e tradições locais, que traga novas forças e saberes a este lugar moribundo, teremos concerteza outra relação diferente, com possíveis acordos de partilha (empréstimo, co-propriedade, comodato ou arrendamento) alem de vendas mais justas.
    - Tudo isso exige um período de "namoro" com estas gentes, por natureza do isolamento e de serem serranos, desconfiados das palavras, muito observadores das acções, abertos à inovação (a maioria é ou foi emigrante) mas sabedores da muita aldrabice de especuladores e intermediários desejosos de fazerem grandes negócios às suas custas.
  2. Como conseguir acolher os voluntários/ interessados no projecto?
    - Os problemas estruturais (luz,água e caminhos) deste projecto, faz com que só a médio prazo (penso um ano), com um mínimo de massa crítica (pessoas) e meios financeiros, seja possível sonhar com ter condições na Assureira para não depender de importar tudo feito.
    - Só com pessoas que dêem o seu contributo (trabalho, ideias, entusiasmo, dinheiro) será possível que isto ultrapasse o papel ou o projecto familiar, de eco-quinta, a que na realidade se reduzem tantos projectos de ecoaldeia em Portugal.
    - Para as cativar é necessário acolhê-las, guiá-las, ter projectos para elas, qualquer coisa palpável para lhes apresentar que dêem fundamento ao sonho, que o distinga de mera miragem.
  3. Como estabelecer uma boa relação com a povoação vizinha?
    - Assureira será sempre, para estas pessoas de Adrão, uma sua Branda, como que uma filha que teve a sua independência mas que consideram sua, que vão acarinhar para sempre como coisa sua. E em a mudança de propriedade significa, como no casamento dos filhos, uma independência total: os laços afectivos, a memória do que foi, o gosto de ver reganhar vida e prosperar é patente nas demonstrações de carinho e interesse já demonstrado nas primeiras visitas há cerca de 1 ano.
    - Mas para estes aldeões serranos, obras valem mais que palavras e intenções: é preciso mostrar que viemos por bem, com respeito pelo meio e gentes, sem atropelar o costume, a posse, a sensibilidade e cultura locais. 
  4. Porquê um "retiro"?
    - Há que distinguir o "estaleiro" da obra: só assim se evita que o pensamento dum iniciador dum projecto colectivo enforme toda a filosofia do empreendimento, os seus termos "constitucionais", a forma de posse da terra (cooperativa e/ou individual), os termos da sua exploração.
    - Assumir a casa que arrendei em Adrão como estaleiro significa que poderá e deverá ter outras finalidades para sobreviver e atrair pessoas.
    - Poderia ser mera estalagem aberta a turistas, mas porque não ser mais ambicioso e tentar atrair pessoas que querem mudar de vida, restaurar a sua saúde, aprender a arte de viver feliz?
    - Foi por isso que se optou por chamar de "retiro" e não "albergue" ou "estalagem" ou simplesmente "casa", pois "retiro" tem uma dimensão espiritual, lembra uma peregrinação interior de mudança de vida, bastante afim duma preparação activa para uma vida em comunidade, em ecoaldeia.
  5. Porquê "da paz" ?
    - À entrada de Adrão existe um santuário no alto duma linda colina chamado "Nosso Senhor da Paz" que tem uma bonita Igreja, onde se faz uma festa anual em princípios de Agosto.
    - Essa palavra/ideia de "paz" parece ser muito cara à região, pois a pouco mais de 10 Km existe um outro santuário de "Nossa Senhora da Paz"  do outro lado do rio Lima.
    - Pessoalmente é a palavra-força que mais utilizo em meditações e exercícios espirituais:  a paz ou "não-violência" é muito mais que a mera ausência de guerra, tem uma dimensão interior de aceitação e amor por nós próprios, pelos outros, pela vida ou mundo em geral.

Sem comentários:

Enviar um comentário