quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Como deixar partir a tralha inútil

“Quantas coisas existem que eu não quero. ‘       ~ Sócrates
Ultimamente, estive num frenesi de eliminação da desordem. Para mim, como para a maioria pessoas, a ordem externa contribui para a paz interior, e varrendo um monte da mal amadas coisas que não utilizo me deu um impulso enorme de felicidade.
Enquanto vasculhava as minhas posses, identifiquei nove perguntas a fazer quando era confrontado com um objeto questionável. Essa lista ajudou-me a decidir o que manter e o que deitar fora, reciclar ou dar de presente.
1. Será que esta coisa funciona? Fiquei surpreso com é tão difícil era admitir que alguma coisa estava estragada e não podia ser arranjada, digamos, a minha torradeira que fracassei arranjar ou o relógio sapo da filha. Por que eu estava cheio dessas coisas?
2. Iria substituí-lo se estivesse estragado ou perdido? Se não, eu realmente não devo precisar.
3. Parece potencialmente útil, mas na verdade nunca se usa? Algo como uma enorme garrafa de água, um saca-rolhas com um mecanismo exótico, ou um vaso pequeno. Ou duplicados. Quantos frascos de vidro de reposição eu preciso de manter à mão?
4. Eu estava “salvando” isso? Deixando gel de banho no fundo do frasco, ou entesourando os meus artigos de papelaria favoritos numa gaveta da mesa, era um desperdício, pois nunca uso estas coisas. Jogar para fora!
5. Isto serve bem o seu propósito? Por exemplo, tinha um monte de objetos de cozinha “bonitinhos” que realmente não funcionam.
6. Foi substituído por um modelo melhor? Inexplicavelmente, tenho o hábito de manter aparelhos eletrônicos estragados ou obsoletos, mesmo depois de terem sido substituídos. Inútil.
7. Está muito bem guardado num lugar recatado? Um dos meus segredos da idade adulta é: Só porque as coisas estão muito bem organizados, não significa que eles não são tralha inútil. Não importa quão arrumada uma coisa está, se eu nunca a usar, por que mantê-la?
8. Será que isso imediatamente me traz alguma memória? Às vezes automaticamente mantenho as coisas que caem na categoria de “recordações”, presumindo que eles têm algum tipo de resposta, mas elas não têm. O troféu de desporto da minha filha na pré-escolar – fora.
9. Já usei esta coisa? Fiquei absolutamente chocado ao descobrir, quando comecei a olhar, como muitas coisas que tínhamos eu nunca tinha usado uma vez. Muitas eram presentes, é verdade, mas prometi a mim mesmo que iríamos colocar essas coisas em uso dentro de algumas semanas ou dá-las.

E você? Já identificou algumas perguntas que lhe ajudarão a decidir se quer ou não manter uma posse particular? Se sim, aguarde um próximo post do passo seguinte: E agora, o que fazer com a tralha inútil?
Ler mais de Gretchen no seu livro ou no blog com o mesmo nome, o Projecto Felicidade.

sábado, 9 de outubro de 2010

I have a dream


AMOR É A ÚNICA FORÇA CAPAZ DE TRANSFORMAR UM INIMIGO NUM AMIGO

Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira.

O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.

Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.

O que vale não é o quanto se vive...mas como se vive..

Martin Luther King

Imagine - John Lennon


No aniversário do seu nascimento recordemos John Lennon, e principalmente, o seu ideal...é tão fácil...junta-te a nós...
Imagine - John Lennon

Imagine não haver o paraíso
É fácil se você tentar
Nem inferno abaixo de nós
Acima de nós, só o céu

Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine que não há nenhum país
Não é difícil imaginar
Nenhum motivo para matar ou morrer
E nem religião, também

Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você se junte a nós
E o mundo viverá como um só

Imagine que não ha posses
Eu me pergunto se você pode
Sem a necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade dos homens

Imagine todas as pessoas
Partilhando todo o mundo

Você pode dizer que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Espero que um dia você se junte a nós
E o mundo será como um só 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um negócio para jovens agricultores: fomentar as hortas urbanas

Christopher Wong, Nancy Huynh e Jing Loh são três recém-licenciados da Universidade de Queens que, no início de 2009, investiram quatro mil euros num negócio próprio.


Esta história seria igual a tantas outras, não fosse o mercado em que a Young Urban Farmers, a sua empresa, actua: as hortas urbanas.
O projecto é simples e foi explicado recentemente no The Globe and Mail: tendo como pano de fundo a cada vez maior apetência das pessoas em aliarem as suas práticas sustentáveis aos hábitos culinários, os três sócios propõe transformar os jardins, terraços, sótãos ou espaços perdidas das casas em pequenas hortas.
A Young Urban Farmers actua em Toronto e entrega aos seus clientes caixas de madeira pré-fabricadas com 1,2 metros quadrados de tamanho (como na foto), que são verdadeiras mini-hortas urbanas.

A caixa consegue plantar uma variada combinação de frutas e vegetais… as que o cliente quiser, na verdade.
O serviço completo da Young Urban Farmers custa 550 euros por estação de cultivo e inclui a caixa de madeira e todo o trabalho do dia-a-dia ou semana. Uma versão low cost, que inclui apenas a instalação inicial da caixa, desce o preço para os 230 euros.
“Reparámos que havia uma tendência no consumo e plantação de comida local e redução da pegada carbónica. Pensámos que o mercado estava mal servido [na área das hortas urbanas] e que as pessoas queriam iniciar projectos destes mas não sabiam por onde começar”, explicou Wong ao The Globe and Mail.
Depois de acções de marketing porta-a-porta e via redes sociais, sobretudo Facebook, a Young Urban Farmers começou a ganhar uma projecção local que a levou a conquistar cada vez mais clientes. E chegou aos jornais (e agora ao ).
No primeiro ano a empresa, com 25 clientes, atingiu o break even. No segundo ano o objectivo é chegar aos lucros – algo provável, uma vez que os clientes são hoje o dobro de no mesmo período de 2009.
Leia o artigo do The Globe and Mail na íntegra. 
Publicado em 10/9/2010. no Green Savers

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O que é a paz

A paz é simplicidade de espírito, serenidade da mente, tranquilidade da alma, vínculo de amor. É ordem e harmonia em todos nós. É um gozo contínuo da consciência. - Padre Pio

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Gestão de conflitos

Os conflitos fazem parte da vida, das comunidades, das amizades e dos amores, mas ninguém nos ensinam a resolvê-los sem alguém ficar magoado ou ressentido. Talvez este artigo para empresas valha para todas as outras situações, dá muito boas sugestões para realmente dialogar, fomentar a paz nos nossos relacionamentos, numa comunidade.
"Mais do que gerir conflitos, a qualquer organização interessa ainda mais como os evitar e, ainda mais forte do que tudo, como detectar e resolver aquilo a que chamamos de conversas cruciais.

A conversa crucial pode-se manifestar no conflito, como se pode manifestar pelo silêncio. Quando duas pessoas não estão em acordo mútuo, normalmente reagem de forma mais agressiva, tentando impor a sua visão, ou calam-se evitando o confronto e retendo a sua própria visão.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ecoaldeia nas montanhas do Norte de Espanha

“Você já se perguntou o que seria viver num lugar sem estradas, onde o céu é livre de fumos durante o dia e de luz artificial à noite, onde não há motores de combustão interna, onde as pessoas vivem em casas que eco-construíram ao longo dos anos, sem restrições de planeamento, cercado por vida selvagem, em numa comunidade dedicada a viver de forma sustentável, em harmonia uns com os outros e com a natureza?“
 Assim começa a magnífica reportagem da revista inglesa “Permaculture” sobre Matavenero, que poderá ler na íntegra em Português (onde juntei umas fotos do site) ou no Original
Foi ela que me inspirou a procurar uma aldeia abandonada na montanha, que se pudesse restaurar em pouco tempo, mas com o saber tradicional de centenas de anos nas pedras, nos muros, nos campos. É lá que me preparo para passar uns dias em Outubro, de trabalho e estudo de como é possível sobreviver-se e prosperar há mais de 20 anos em condições tão adversas (isolamento, neve, altitude). 
Alguém interessado para partilhar custos e experiências?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um dia na Ecoaldeia (um sonho acordado)

Como de costume acordo hoje ao cantar do galo da Maria, autêntico despertador sem botão de desligar (até que a morte nos separe). É fácil conviver com tão simpático bicho, pois todos sabemos que ovos galados são mais saudáveis e alguém tem de fazer o serviço. Foi uma discussão acesa (como de costume) até todos aceitarem que era um mal menor para quem utiliza ovos (a maioria), desde que o bicho morresse de morte natural, os defensores dos animais foram radicais nisso. Acho que o que mais pesou foi todos sabermos que há muito trabalho a fazer e isso bastar para nos chamar ao dever sem ninguém a cucutar-nos, sem despertador ou relógio (que ninguém usa, até porque o estridente sino da aldeia vizinha ouve-se cada meia hora).
O sol ainda não tinha acordado mas já se via algumas chaminés a fumegar com os preparativos do café da manhã ou lá o que comiam. Depois de algumas experiências chegamos à conclusão que aqui, como na informática, a política do grande caldeirão donde todos comem não era a mais maleável,saborosa e saudável, porque foram nascendo cozinhas em quase todas as casas, pelo menos para as pequenas refeições. Os pequenos “rocket stoves” já crepitam nalgumas chaminés, a azáfama é grande pois hoje temos o dia semanal de trabalho comunitário, com uma carrada de problemas a resolver. Na véspera tínhamos acertado os trabalhos e os grupos (com alguma discussão, ainda há gente que adora protagonismo ou com alergia a alguns trabalhos), por isso os nossos aldeões começaram a reunir-se nos sítios combinados (a maioria na oficina ou no bar), distribuindo-se alfaias e tarefas.
Custou a implementar a ideia de haverem responsáveis eleitos, mas na hora do “vamos a ver” é que todos sentem a sua utilidade, era uma anarquia, horas de discussão para fazer qualquer coisa de palpável. È claro que a tentação dos líderes se imporem como “chefes” ou não se quererem chatear ainda existe, ainda temos muito a aprender, mas cada vez menos se discute por tudo e por nada e isso é muito bom para a Paz desta aldeia (que por pouco não se chamou “Ecoaldeia da Paz” em honra do santuário mais próximo).
Mesmo assim o meu grupo não se entende, alguém propôs fazermos um pouco de meditação até ao nascer do sol. Parece que resulta, em vez de perdermos tempo em discussões inúteis (ma maioria), acalmamos os espíritos exaltados e talvez ganhássemos tempo. Saudamos o sol e finalmente pômo-nos a caminho: tínhamos decidido refazer o sistema de rega, bastante danificado por 20 anos de abandono total, e havia muito a fazer desde alargar a represa, repor as pedras caídas, arranjar um canal novo até ao centro da aldeia (chamamos-lhe ponposamernte o Rossio). Eramos por isso um grupo numeroso que logo se dividiu quando foi aconselhável. Alguém se lembrou de cantarmos as músicas que vamos cantar na festa  que queremos dar este fim de semana, aberta como sempre aos amigos e vizinhos de fora, penso que vai haver também baile além das cantorias, pantominas e tambores. Se fizer bom tempo há-de ser ao ar livre, ao calor e luz da fogueira tem outro valor.
Nestes dias todos temos refeição em comum, na cantina do retiro. Foi pacífico partilharmos só refeições vegetarianas, mas custou a acertarmos com um menu flexível que agradasse tanto os Vegans como os macrobióticos. O mais difícil é contentar os adeptos da raw-food (crudívoros), felizmente temos saladas e frutas em abundância que os hortelãos da aldeia (quase toda a gente) fornece em quantidade e qualidade (bio, nem se discutiu isso, não fossemos todos partidários da agricultura natural, permacultura ou afins).
A tarde está quente, felizmente que decidimos trabalhar à sombra de tarde, ao sol de manhã. Mesmo assim temos ainda muito trabalho pela frente a escavar os troncos com as enxós, “era mais prático comprar uns canos de plástico” alguiém murmura em desespero. Mas todos sabemos que já foi muito ter-se aceite utilizar a moto-serra para abater as árvores e tirar os ramos maiores (o que um pequeno grupo já tinha feito há tempos, para poderem secar), e acabou por se apanhar o jeito de fazermos os entalhes e as uniões, vamos lá ver se resultam.
O que vale é que estamos todos bem dispostos, contam-se umas anedotas, algumas fofocas próprias do espírito de aldeia que já estamos a apanhar, nada de ofensivo. Às 5 (bendito sino!) abandonamos o trabalho e levamos as ferramentas, orgulhosos de termos quase a obra concluída, talvez os voluntários estrangeiros (2 para já) consigam acabar o que falta.
Reunimo-nos quase todos no bar para tomar uma bebida, conversa mole, jogar qualquer coisa ou navegar na net. Fui à minha aula de Yoga, é bom termos esta troca de saberes entre nós, eu também tenho dado os meus workshops quando mos pedem. Temos de pensar seriamente em criar uma moeda local, não é muito prático estarmos a apontar as horas que nos devem ou que devemos destas partilhas, é complicado.
Como de costume janto em casa, bem cedo, um chá e umas torradas bastam-me para matar a fome. E que bom é este pão caseiro que eu fiz, mas está a acabar. Amanhã tenho de conversar com os “padeiros” da aldeia, a ver se combinamos uma fornada em comum, sempre se poupa lenha e trabalho.
Como sempre o bar está animado à noite. O João toca uma viola com um coro de meninas à volta, aparece o Ricardo com a sua gaita de beiços a improvisar um “blues”, parece que tocam ao desafio. Não me apetece ir buscar a viola, por isso experimento acompanhá-los nos tambores do bar, não tenho mesmo jeito nenhum.
Ainda espreito a net antes de me deitar, mas estou cansado de me deitar tarde ontem (muito se discute!) e da “porrada” de hoje, amanhã é outro dia de ganha pão lá fora. Não está fácil a sobrevivência, mas cá nos vamos arranjando, pois que com a ajuda da Cooperativa que nos deu alguns meios no início, quase todos arranjamos actividades onde ganhamos algum dinheiro, tivemos é de aprender quase todos a viver com menos (luxo, dinheiro, saídas,…), mas felizmente também com mais ar puro, alegria, amor, sustentabilidade, etc, etc, etc...

A Tribo das mil cores está a reunir-se

De todo o lado recebo mensagens nesse sentido, ver o que significa isso no Guia de Amor - 3 etapas para amar e viver seus sonhos agora. Estamos em transição acelarada mesmo aqui em Portugal. Hoje chegou-me li este interessante evento, no qual penso participar: A reunião dos fundadores (duma ecoaldeia) 5 outubro 2010 (10:00 a 19:00), na quinta da enxara (Mafra)

 

Uma mensagem a todos os membros de Permacultura e Transição Portugal

Estamos todos de parabéns... agora somos muitos... não contei mas julgo termos sido cerca de 50. Muita gente... não deu para produzir trabalho em concreto mas valeu a pena pelas apresentações... deu para nos conhecermos e perceber o interesse, a motivação e também a falta de informação sobre alguns temas... Percebemos também a difícil tarefa de harmonizar o estilo de vida que queremos ter e defendemos e a prática. Pois, pois, falar é fácil!!!!

Convidamos a todos a escreverem um texto mais ou menos ficticio relatando um dia vosso na nova comunidade... na primeira pessoa... tipo diário... mas deixem-se divagar um pouco... é um óptimo exercicio de visualização e torma tudo muito mais claro, o que a comunidade pode ser para cada um e o que verdadeiramente importa, aqueles que quiserem partilhar o seu texto, enviem-nos e nós reenviamos para todos... já começámos os nossos....

Iremos estruturar equipas,, definir agendas e actividades e começar a construir os laços e a desfazer os nós.....
Quem quiser preencher os inquéritos e não veio na reunião anterior contacte-nos para o mail oficial: 200membros@gmail.com

Mais informação em: http://permaculturaportugal.ning.com/events/reuniao-de-fundadores

Um abraço

Antonieta e Artur
No post a seguir vou relatar o meu sonho

Porquê o “Retiro da paz” em Adrão?


O projecto duma ecoaldeia na Assureira debateu-se logo com vários problemas/desafios que ainda subsistem:
  1. Como evitar a especulação dos vendedores?
    - É inevitável que as pessoas queiram ver valorizados os seus bens, não só pela especulação dalguns negócios na vizinha Soajo e respectivas brandas, mas também porque o valor sentimental que lhes têm é muitas vezes superior ao comercial.
    - Se no entanto o seu interesse ultrapassar o vil metal e apelarmos à sua vontade de preservar/ reacender a vida quer na Branda quer no próprio centro do lugar, através da vinda de gente nova, que respeite o ambiente e tradições locais, que traga novas forças e saberes a este lugar moribundo, teremos concerteza outra relação diferente, com possíveis acordos de partilha (empréstimo, co-propriedade, comodato ou arrendamento) alem de vendas mais justas.
    - Tudo isso exige um período de "namoro" com estas gentes, por natureza do isolamento e de serem serranos, desconfiados das palavras, muito observadores das acções, abertos à inovação (a maioria é ou foi emigrante) mas sabedores da muita aldrabice de especuladores e intermediários desejosos de fazerem grandes negócios às suas custas.
  2. Como conseguir acolher os voluntários/ interessados no projecto?
    - Os problemas estruturais (luz,água e caminhos) deste projecto, faz com que só a médio prazo (penso um ano), com um mínimo de massa crítica (pessoas) e meios financeiros, seja possível sonhar com ter condições na Assureira para não depender de importar tudo feito.
    - Só com pessoas que dêem o seu contributo (trabalho, ideias, entusiasmo, dinheiro) será possível que isto ultrapasse o papel ou o projecto familiar, de eco-quinta, a que na realidade se reduzem tantos projectos de ecoaldeia em Portugal.
    - Para as cativar é necessário acolhê-las, guiá-las, ter projectos para elas, qualquer coisa palpável para lhes apresentar que dêem fundamento ao sonho, que o distinga de mera miragem.
  3. Como estabelecer uma boa relação com a povoação vizinha?
    - Assureira será sempre, para estas pessoas de Adrão, uma sua Branda, como que uma filha que teve a sua independência mas que consideram sua, que vão acarinhar para sempre como coisa sua. E em a mudança de propriedade significa, como no casamento dos filhos, uma independência total: os laços afectivos, a memória do que foi, o gosto de ver reganhar vida e prosperar é patente nas demonstrações de carinho e interesse já demonstrado nas primeiras visitas há cerca de 1 ano.
    - Mas para estes aldeões serranos, obras valem mais que palavras e intenções: é preciso mostrar que viemos por bem, com respeito pelo meio e gentes, sem atropelar o costume, a posse, a sensibilidade e cultura locais. 
  4. Porquê um "retiro"?
    - Há que distinguir o "estaleiro" da obra: só assim se evita que o pensamento dum iniciador dum projecto colectivo enforme toda a filosofia do empreendimento, os seus termos "constitucionais", a forma de posse da terra (cooperativa e/ou individual), os termos da sua exploração.
    - Assumir a casa que arrendei em Adrão como estaleiro significa que poderá e deverá ter outras finalidades para sobreviver e atrair pessoas.
    - Poderia ser mera estalagem aberta a turistas, mas porque não ser mais ambicioso e tentar atrair pessoas que querem mudar de vida, restaurar a sua saúde, aprender a arte de viver feliz?
    - Foi por isso que se optou por chamar de "retiro" e não "albergue" ou "estalagem" ou simplesmente "casa", pois "retiro" tem uma dimensão espiritual, lembra uma peregrinação interior de mudança de vida, bastante afim duma preparação activa para uma vida em comunidade, em ecoaldeia.
  5. Porquê "da paz" ?
    - À entrada de Adrão existe um santuário no alto duma linda colina chamado "Nosso Senhor da Paz" que tem uma bonita Igreja, onde se faz uma festa anual em princípios de Agosto.
    - Essa palavra/ideia de "paz" parece ser muito cara à região, pois a pouco mais de 10 Km existe um outro santuário de "Nossa Senhora da Paz"  do outro lado do rio Lima.
    - Pessoalmente é a palavra-força que mais utilizo em meditações e exercícios espirituais:  a paz ou "não-violência" é muito mais que a mera ausência de guerra, tem uma dimensão interior de aceitação e amor por nós próprios, pelos outros, pela vida ou mundo em geral.

Porquê na Assureira?


Quando iniciei a demanda duma aldeia abandonada em Junho de 2009, um amigo pôs-me em contacto com uma amiga que há 6 anos tinha o sonho de reconstruir uma aldeia abandonada, Bordença, também uma branda de Adrão. Fiquei encantado com o espaço, cerca de 50 casas num cenário idílico de postal ilustrado, um caminho romano, uma ponte de pedra sobre um ribeiro no centro da aldeia, acessos razoáveis, vista lindíssima. Após os primeiros contactos com os proprietários (muitos herdeiros, quase todos no estrangeiro), vi que havia muita procura por turistas, fazendo disparar os preços das poucas disponíveis para venda.
Já quase a desistirmos, soubemos que na outra Branda, mais distante e pouco visível da estrada, quase desconhecida dos turistas, os preços seriam mais razoáveis, menos proprietários e mais vontade de vender, pois não interessava a ninguém. Não havia exploração das terras (ao contrário de algumas de Bordença, mais acessível), o estradão recente ficava a 300 metros, o mato invadiu quase tudo, as casas estavam quase todas concentradas e sem quintal, a água e luz longe, os caminhos deteriorados, era por isso dum fraco potencial turístico.
Dispunha de menos casas (cerca de 30), mas maiores pois a maioria serviu de 2ª habitação (Bordença era mais para o gado por estar mais próxima de Adrão), o ribeiro estava a 300 do centro da aldeia, mas banhava a maioria dos campos.
Tinha uma grande casa ainda habitável com mais de 150 m2 de superfície coberta, ideal para o projecto do retiro, mas infelizmente os proprietários que detinham ainda 4 ruinas e um terço dos terrenos pediam muito pelo conjunto, não querendo vender parte nem alugar.
Apareceram outros proprietários interessados em oferecer as suas propriedades, mas a mira dum lucro fácil fazia prever pedirem bastante. Decidiu-se que esse não era o melhor caminho na altura, havia que encontrar outras formas de abordar o assunto, de encontrar mais interessados, de ganhar fôlego.

Porquê na Serra do Soajo?

O Parque Nacional Peneda-Gerês é assim denominado porque tem dois lados distintos, como duas pétalas duma flor (falta a terceira que é espanhola): do lado poente temos as serras da Peneda e do Soajo (a Sul), do lado nascente a do Gerês, a dividí-las está a serra Amarela (que não tem estradas, as comunicações fazem-se pela Espanha ou pelo Sul). O nome reflecte esta dualidade que não é só geográfica, distinguindo-se o Soajo-Peneda  por uma paisagem menos verde, mais pedregosa (sobretudo a Peneda), menos população e turismo.
Faz todo o sentido que nelas se encontre a maioria das aldeias abandonadas do Gerês, pois a desertificação desta zona foi implacável, as aldeias estão quase sem crianças, sem uma única escola, sem vida senão nos meses de Verão com o regresso dos emigrantes.
Para alem disso, nesta Serra do Soajo encontra-se a única zona de floresta virgem do país (na Europa só há 3), ao longo do rio Ramiscal, a poucos Km de Adrão.


A vila do Soajo é uma pérola de granito, bem restaurada, com vida própria (foi sede de conselho até ao Séc. XIX), e estratégicamente colocada: perto de Espanha (12 Km) e por essa via das Termas do Gerês (44 Km), e a 20 Km das vilas mais próximas (Arcos de Valdevez e Ponte da Barca).

Porquê na Peneda-Gerês?



Sendo o nosso projecto essencialmente ecológico, faz todo o sentido ser
implementado numa zona naturalmente privilegiada, protegida por lei.
Acresce o facto de ser uma área ainda habitada por gente com
valiosos conhecimentos ancestrais que queremos preservar e difundir.
O Parque Nacional Peneda Gerês foi criado em Maio de 1971 como primeiro Parque Nacional,com uma área de 72.000 hectares, englobando 5 concelhos (Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras do Bouro e Montalegre) e 4 grandes serras (Peneda, Soajo, Amarela e Gerês). O ponto mais elevado tem 1508m. A floresta é dominada pelos carvalhos, assim como o azevinho, vidoeiro, pinheiro e medrunheiro. É a zona mais pluviosa do nosso território continental, donde ter um clima húmido.

Porquê uma aldeia abandonada?


A implementação de estruturas habitáveis de raiz é um processo lento e complexo, dado a necessidade prévia e demorada do conhecimento do habitat natural e humano, pelo que faz sentido aproveitar estruturas já existentes feitas por quem tinha o conhecimento das forças geofísicas, climáticas e ambientais.
A existência duma visão comum é fundamental para a implementação duma ecoaldeia. O facto de haverem  vizinhos que não partilhem dessa visão, poderá dar origem a situações de algum mal-estar sobretudo para os com uma visão mais tradicional.
Há por isso de gerir cautelosa e diplomaticamente todo o processo de implantação, de forma a não criar um “cancro” socialmente rejeitado, enquistado numa comunidade pré-existente com quem não se façam as devidas pontes.